Liberdade de Expressão

Comunicado de imprensa R16/19

Relatoria Especial condena o assassinato do jornalista José Rafael Murúa Manríquez e observa com preocupação a continuação da violência contra jornalistas no México

 25 Janeiro, 2019

Washington D.C. - A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condena o assassinato de José Rafael Murúa Manríquez, no México, e observa com preocupação a persistência da violência contra jornalistas e o risco enfrentado por estes para desempenhar suas atividades. A Relatoria Especial faz um chamado para que o Estado mexicano investigue de forma completa, efetiva e imparcial este crime e outros que estão impunes, esclareça seus motivos, e determine judicialmente a relação que possam ter com a atividade jornalística e a liberdade de expressão. Além disso, recomenda que implemente medidas de prevenção e garantia para jornalistas que se encontram em situação de risco.

De acordo com as informações disponíveis, José Rafael Murúa Manríquez, de 34 anos, trabalhava como diretos da "Radiokashana" e colaborava com outros meios; tratava de temas culturais e políticos, entre outros; e também era ativista e defensor de direitos humanos. De acordo com o que foi informado, era beneficiário do Mecanismo de Proteção para Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e Jornalistas desde 2017.

Ainda de acordo com as informações disponíveis, familiares teriam relatado que José Rafael Murúa saiu para caminhar na noite de 19 de janeiro, e não mais tiveram notícias dele. No dia seguinte, à tarde, autoridades teriam localizado o seu veículo e, posteriormente, o seu corpo foi encontrado na Rodovia Santa Rosalía, em San Ignacio; com várias perfurações no tórax.

Adicionalmente, de acordo com as informações, o jornalista teria denunciado publicamente ameaças e agressões contra ele nas últimas semanas, acusando a administração do governo municipal de Mulegé, Baja California Sur por aquelas. No entanto, não teria informado formalmente sobre estes incidentes ao Mecanismo de Proteção.

Por outro lado, em relação a este crime, o Estado informou que o Mecanismo Federal tomou conhecimento e fez o acompanhamento sobre a ameaça de morte recebida pelo jornalista em novembro de 2018, após uma publicação realizada pela vítima nas redes sociais. Informou também que o jornalista contava com medidas de proteção, tais como dispositivo de assistência com geolocalização e sistema de reação imediata, e possuía números de emergência e infraestrutura em sua residência.

O Estado também informou a Relatoria Especial que a Comissão Executiva de Atenção a Vítimas está realizando um procedimento para proporcionar ajuda para a família com gastos funerários, acompanhamento jurídico e psicológico.

Igualmente, de acordo com as informações fornecidas pelo Estado, o governador do estado de Baja California Sur condenou o assassinato do jornalista, e declarou que deu instruções à Procuradoria Estatal para seguir todas as linhas de investigação a fim de esclarecer o crime. Da mesma forma, a Secretaria de Governabilidade teria solicitado à Procuradoria Geral da República que a Promotoria Especial FEADLE assuma a competência sobre o caso para a devida investigação e esclarecimento dos fatos.

Finalmente, o Estado informou que o titular do Mecanismo de Proteção a Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e Jornalistas está comprometido com o avanço nas medidas para o fortalecimento institucional.

Para a Relatoria Especial, é preocupante a continuação da violência contra jornalistas no México. Em 2018, pelo menos 12 jornalistas foram assassinados e foram denunciadas mais de cem agressões de diversos tipos contra jornalistas e meios de comunicação.

"Este novo assassinato demonstra que em várias regiões do México existem riscos concretos para o desempenho da profissão de jornalista. O novo governo deve tomar medidas preventivas e oferecer todas as garantias para que os jornalistas possam desempenhar suas atividades; é importante que as mais altas autoridades enviem uma mensagem contra este tipo de crimes e reconheçam o trabalho dos jornalistas," expressou Edison Lanza, Relator Especial.

Após a realização da sua visita in loco ao México em 2017, em conjunto com o Relator nas Nações Unidas para a Liberdade de Expressão e Opinião, a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão ressaltou que os ataques contra jornalistas nesse país, "persistem hoje em dia, acompanhados de um sentimento contínuo de insegurança e impunidade. A natureza sistemática desta violência requer não somente medidas individuais específicas, mas também medidas de natureza estrutural." [...] O cumprimento pela PGR da sua responsabilidade de identificar e investigar os riscos enfrentados pelos beneficiários deveria ser percebido como um aspecto essencial de todo programa de proteção."

A Relatoria Especial insta o Governo mexicano a intensificar as iniciativas de alerta precoce e outras medidas preventivas, em consonância com suas obrigações internacionais, levando em consideração a natureza específica dos riscos e seus contextos particulares.

Tanto a Comissão como a Corte IDH manifestaram em várias oportunidades que os crimes contra jornalistas e outros profissionais de meios de comunicação causam um efeito atemorizante, inclusive para os cidadãos e cidadãs que pretendem denunciar abusos de poder ou atos ilícitos de qualquer natureza.

O princípio 9 da Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão da CIDH estabelece que: "[o] assassinato, o sequestro, a intimidação e a ameaça aos comunicadores sociais, assim como a destruição material dos meios de comunicação, violam os direitos fundamentais das pessoas e limitam severamente a liberdade de expressão. É dever dos Estados prevenir e investigar essas ocorrências, sancionar seus autores e assegurar reparação adequada às vítimas."

R16/9